Você se Lembra?

Você se Lembra?

sexta-feira, 29 de março de 2013

Santarém: Última sessão do Cine Olímpia, 1986


04.05.1986 - O Cinema Olímpia fechava suas portas, em Santarém. Desse cinema os santarenos não esquecem. "Operação Dragão", com Bruce Lee. Foi o último filme exibido no saudoso Cine Olímpia. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Patrimônio Histórico Santareno Destruído


Um crime ao patrimônio histórico de Santarém é o que se pode observar nestas duas fotos que ilustram este post. A primeira imagem nos remete à década 80 quando o casarão da família Reça e a padaria Luci, prédios localizados na rua Lameira Bittencourt, faziam parte do passado recente desta cidade. 

A imagem abaixo é o retrato do descaso, da irresponsabilidade e da leniência das nossas autoridades. A foto feita do alto do Morro da Fortaleza dá a dimensão do dano causado ao patrimônio histórico. O local que um dia abrigou esses importantes imóveis receberá brevemente um prédio comercial.

Do cenário antigo, resta apenas a fachada que possivelmente será mantida em seu aspecto original.

Além do dano ao patrimônio histórico, outro fator preocupante é a retirada de parte do Morro da Fortaleza, que ocorre sem fiscalização dos órgãos ambientais. Moradores ouvidos pelo blog temem o risco de um deslize de terra, principalmente neste período de chuvas fortes e intensas.

O silêncio coletivo da Prefeitura, da Câmara de Vereadores, do Ministério Público e do Instituto Histórico e Geográfico de Tapajós (IHGTap) é intrigante. Ninguém se manifesta. Por que?

“Não se deve apagar a memória do passado. Não só em respeito aos que nela foram vida, mas para possibilitar o conhecimento de como viviam, para que da comparação com o presente, possa a sociedade atual decidir sobre seu futuro. O conjunto, a arquitetura e a vegetação em redor retratam a memória de uma época, quando nas coisas se refletia a tonalidade de um tempo. A vida passada é compreendida pelos símbolos que ficam...”.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Navio Lobo D'Almada


O navio “Lobo D’Almada”, construído na Holanda em 1955,  pertencia a SNAPP - Serviço de Navegação e Administração do Porto do Pará. Por vários anos atendeu a grande demanda de passageiros em suas confortáveis acomodações. Fazia viagens para o Baixo Tocantins, Marajó e Baixo Amazonas. O navio acabou abandonado num dos portos à margem da baía de Guajará, num cemitério de navios, em virtude de uma disputa judicial.

sábado, 16 de março de 2013

Santarém: Rua do Comércio





















Rua João Pessoa, também chamada rua do Comércio ( hoje Lameira Bittencourt ). Com o Castelo ao fundo, casa Boa Esperança ( do Tuji ), farmácia Veloso ( do Mingote ), banco do Brasil e farmácia do Povo ( do Vicente Miléo ). Década de 50.

Santarém: Propaganda da Fibrasa, 1974



Usina de Luz

É um dia nublado, ameaçando chover novamente, o computador indica 22 graus lá em baixo, ao nível do mar. Aqui na encosta da montanha, no meio da floresta atlântica, no condomínio onde residimos, deve estar uns dois graus abaixo, mas não venta como ontem, no início da tempestade, quando o fornecimento de energia elétrica foi interrompido por algum galho derrubado sobre a rede de transmissão. Agora o ar permanece sereno, a tranquilidade domina o ambiente e meu espírito vagueia pelas lembranças de minha juventude na terra natal.


Lembro da Usina de Luz, onde hoje funciona o Mercado Municipal, na Praça Rodrigues dos Santos. Eu ia lá admirar aquela que me parecia enorme termoelétrica, a fornalha queimando lenha, a caldeira soltando vapor e fazendo mover o motor, tudo para acionar um pequeno gerador elétrico, acho que fornecia uns meros 50 KW que mal davam para iluminar precariamente as ruas da frente no centro da cidade com luzinhas que mais pareciam lamparinas. A fornalha era alimentada desde cedo para fornecer vapor suficiente das seis às nove da noite quando os apitos da usina anunciavam o acender e apagar das luzes.

Quando a usina apitava era hora dos rapazes se despedirem, porque nenhuma moça de família namorava depois que a luz apagava. O pai pigarreava, a mãe vinha espiar e dizer entre dentes: "Tá na hora". Acabava o namoro e iniciava o caminho da Fuluca, das Sete Bandeirinhas, onde a bebida, a música e as mulheres à luz de candeeiros estavam disponíveis a noite toda. Mas eu era congregado mariano e não podia frequentar tais lugares, então ia visitar residências com pais menos repressivos namorar meninas mais liberais.

A sessão do Cinema Olímpia terminava às nove, justo quando iniciava o apagão. Por isso as meninas tinham que ser sempre acompanhadas por responsáveis, os próprios pais, irmãos mais velhos ou tios. Sempre equipados com lanternas para iluminar os caminhos. A Avenida Tapajós não existia. Só a Rua do Comércio (Lameira Bittencourt), Siqueira Campos, Marechal Floriano e o trecho da Adriano Pimentel diante da Prefeitura eram pavimentadas, com esgoto a céu aberto. As demais vias eram de terra batida e muitas não passavam de areais que dificultavam a passagem dos carros de boi. Caminhões e carros eram apenas dois ou três de cada. O carro do Von, pai do Alexandre, era o único que transportava passageiros.

A Rádio Rural ainda não existia, não havia energia elétrica nem Frei Juvenal, o precursor de padre Edilberto Sena. Quem precisasse de energia durante o dia tinha de instalar seu próprio gerador diesel-elétrico. Era o caso das Prensas de juta que funcionavam na Rua do Imperador, a fábrica de gelo do Bar Mascote e a do Guaraná Sacil, a primeira de Santarém, que fornecia força para nossa casa no horário comercial.

Finalmente o sonho de Silvio Braga se realizou e a hidroelétrica do Palhão foi inaugurada com muitas festas e seus 40 MW, suficientes para acalentar o início do desenvolvimento econômico da cidade. Foi uma alegria, assim como agora que a Light restabeleceu o fornecimento de energia e eu posso escrever estas recordações.

A carência de energia é um dos maiores empecilhos ao desenvolvimento e bem estar da Humanidade, como nestas horas em que fiquei no apagão, isolado do Mundo, do conhecimento, da informação, dos parentes e amigos, imaginando como fica infeliz e triste a vida sem eletricidade. E sem Internet.

Sebastião Imbiriba

Fonte: O Estado do Tapajós On Line

sexta-feira, 8 de março de 2013

Santarém da Saudade



O progresso chegou, Santarém! 
Com seu porto e suas estradas 
Sua TV, suas velas de regatas
Sua onda de motores, um vai, outro vem...
Tu gostaste, Santarém?
Foi pro teu bem?
Hein? Hein? Hein?
Responde depressa, Santarém!

E agora, Santarém?
Onde as canoas de velas belas
Metidas no muruci
Onde as catraias, os taxis das praias;
Cadê dona Bibi, que fazia Paumary?
Onde as lavadeiras
Mulheres velhas, meninas brejeiras
E a roupa lavada, na corda esticada
E à tarde, pelada gostosa, comendo na areia?
A serra Piroca, coitada!
Perdeu seu cume, quase morreu decapitada
Duma baita dentada
Que o progresso lhe deu.
E a Vera Paz? Essa mesma, acabou!
E o cais do porto taí
Carreando dinheiro, espertando jaraqui.
Laguinho aterrado, Irurá loteado
Maria José proibida: avião tá de saída...

Santarém, e tua arte, como vai?
Cadê os trabalhos das bonequeiras
As "caretas", tantas obras belas, gentis
Os castiçais, os santos de madeiras
As custódias, os turíbulos E o velho altar da Matriz?
As cuias do Fona, os trabalhos das rendeiras!
Como tudo, Santarém, não tens museu?
E o Trapiche, a Igreja de São Sebastião
O Teatro Vitória?
Olha, Santarém: quem não guarda
Seu passado, morre para a história!
 

Dona Dica! Suas bolsas, seus leques!
Laurimar! Tuas esculturas e pinturas!
Isoca! Teus hinos, tuas valsas, esse tesouro!
João Sena, tuas jóias, quais finas rendas d'ouro.
Paulo Rodrigues, Emir, João Santos
Ezeriel, Frei Ambrósio, outros tantos...
Sem museu, sem biblioteca, sem cuidados
Onde ficam essas obras de artista renomados?

Ainda restam as festas da Conceição
De São Raimundo, de São Sebastião
As noites de serenata na Aldeia enluarada.
As fogueiras na praia
Das turmas em piracaia.
E o Amazonas e o Tapajós
Abraçando Santarém, abraçando todos nós.
Lembrando o Padre Poeta Manuel
Murmuro, pelos olhos escorrendo o coração:
Eu te amo, Santarém, meu bem, meu bem!...

Texto: Nicolino Campos 1983

Foto: Vidal Bemerguy década de 50


domingo, 3 de março de 2013

Os Catraieiros de Santarém


Não se pode precisar a data em que os catraieiros começaram a operar no porto de Santarém, mas se pode afirmar que seu aparecimento foi determinado pela necessidade de fazer o tráfego dos navios para terra e vice-vera. Foi, pois, em uma época em que os navios de grande calado começaram a aportar em Santarém, não sendo mais possível chegarem até a beira da praia para lança sua prancha facilitando a comunicação entre terra e navio, como até então os barcos faziam.

Sua denominação proveio do tipo de embarcação que utilizavam. Uma canoa de vinte palmos de comprimento com capacidade para setecentos quilos e com lotação para doze passageiros. Geralmente essas canoas eram fabricadas no rio Arapiuns e sofriam uma adaptação, com colocação de bancos laterais na popa, soalho e eram movidas por duas longas faias colocadas na proa, seguras por forquetas presas em almofadas laterais da canoa. Eram bem cuidadas, limpas e ofereciam conforto e segurança para seus usuários. Todas estavam identificadas por nomes: "Flor de Maio", "Santa Maria", "Zazá", "Gaivota", "Paysandu", "Angelita" e outros nomes que se perderam n esquecimento. Não eram numerosas. No máximo umas vinte catraias para esse serviço.


Fotografia tirada em frente a Praça da Matriz, 1948.
O catraieiro era o proprietário e o tripulante. Trabalhava sozinho, mas quando tinha muito serviço sempre conseguia um ajudante. Isto acontecia quando no porto fundeavam um, dois ou mais navios, o que era comum naquele tempo. Aportavam navios do Lóide Brasileiro, da Amazon, particulares e estrangeiros, predominantemente ingleses.

O catraieiro fisicamente era o tipo comum do nosso caboclo. Bem forte, dispondo de força física capaz de manejar com facilidade os enormes “baús” e as grandes malas comumente usadas pelos passageiros. Eram pessoas bem relacionadas e identificadas algumas pelo renome, outras pela alcunhas: Alonso, Nilo, Fausto, Galo, Pascoal, João Cantídio, Maia, Jango e entre eles, o pequeno Bene, um descendente de norte-americano da antiga colônia aqui estabelecida no século passado. Bene, fisicamente destoava dos demais. Era um ser pequeno, vermelho, alourado e era protestante.

O catraieiro tinha seus “fregueses”, os senhores da terra que constantemente viajavam para Belém para tratar de negócios ou da saúde, ou os caixeiros-viajantes das grandes casas aviadoras de Belém que periodicamente chegavam a Santarém, trazendo seus numerosos ‘’baús’’ sortidos com mostras de mercadorias para expor a venda ao comércio local. É interessante lembrar que o pequeno Bene, o catraieiro protestante tinha as preferências do bispo Dom Amando.


Fotografia tirada pelo escritor Mário de Andrade, 1927.
Eles gozavam de absoluta confiança dos seus fregueses. Nunca se soube de um desvio proposital de bagagens, de um arrombamento, de um roubo em que um dos catraieiros fosse envolvido. Cuidavam com muita dedicação dos objetos que lhes eram entregues para o embarque ou desembarque. Estavam sempre muito bem atualizados, com o movimento dos navios em transito pelo porto de Santarém. Contavam com a colaboração dos telegrafistas da Amazon Thelegrafic que lhes davam informação das posições dos navio, que passavam pelos portos de Prainha, na subida e no de Óbidos na descida do rio Amazonas. Tinham tempo integral para se dedicarem a longa espera dos navios, de dia ou de noite. Os passageiros ficavam despreocupados, entregues aos seus cuidados para serem chamados a qualquer hora da noite quando o navio se aproximava de Santarém. Tinham uma visão capaz de identificar uma longa fumaça lá pelas bandas do Urubuquaquá ou um ponto luminoso que se movia dentro da noite. Nas noites escuras, mesmo nas noites chuvosas, quando tinham de fazer o embarque de alguém, perambulavam pelas ruas desertas da cidade conduzidos pela luz pálida de um farol na mão, em busca de passageiros.

O que ganhavam correspondia as suas mais urgentes necessidades. Segundo depoimento de um velho catraieiro, chegavam mesmo a conseguir montar um pequeno guarda-roupa onde dispunham de um terno de casemira para ir ao largo da festa da Conceição, ou nas noites de domingo ao cinema. Mas, as vezes, o trajar do catraieiro dava bronca...

De Alenquer chegou uma cabrocha capaz de fazer marinheiro perder navio. Chamava-se Mariazinha.Um desses catraieiros que gostava de usar seu terno de casemira nas noites domingueiras despertou o amor de Mariazinha que já tinha despertado o interesse de um figurão ou para ser méis preciso, de um "coronel" de muito prestigio. Mas, Mariazinha repudiou as propostas do coronel e ficou com o catraieiro. Ferido no seu orgulho e na sua vaidade pelo desprezo da alenquerense, o "coronel" resolve montar uma trama, fazendo o delegado de polícia prender o catraieiro para averiguações... A classe que não era numerosa, mas, muito unida, contrata um advogado para acompanhar o caso e sendo o bacharel amigo de farra da delegado, toma conhecimento de que tudo não passava de encenação para ver se o "coronel" tomava a Mariazinha do catraieiro... Mas o pior é que o coronel, além do catraieiro, teve como concorrentes o advogado e o delegado na conquista da cabrocha alenquerense...

Os tempos foram andando. Os navios para facilitar o desembarque de carga foram procurando atracar no trapiche que também foi se ampliando para atender a demanda. E assim as catraias foram desaparecendo e com elas uma classe – os catraieiros, que tanto serviços prestaram ao porto de Santarém.

Texto: João Santos


Primeira turma do internato do Ginásio Dom Amando, 1943

Fotografia do Frei Isidoro Risse, com a primeira turma do internato do Ginásio Dom Amando, 1943.